Durante o período do estágio supervisionado na clínica- escola, por várias vezes senti um frio na barriga e questionei o que de fato estava fazendo no setting clínico, aguardando o início da sessão terapêutica com crianças. Depois que acolhia o paciente na sala de espera, toda aquela tensão inicial desaparecia, dando lugar a momentos inesquecíveis, durante os 50 minutos da sessão. Confesso que algumas vezes não sabia que conduta terapêutica adotar no trabalho com crianças, que geralmente agem movidas pela naturalidade e espontaneidade e que algumas vezes criavam cenários e ambientes durante a sessão, que na prática eram frontalmente diferentes da teoria.
E o que fazer naquela situação criada inesperadamente pelo paciente? Estas situações sem dúvidas fortaleceram em muito a minha prática clínica infantil. Sempre procurei buscar encontrar uma solução que atendesse aos anseios do meu paciente, sem contudo fugir do conteúdo teórico sobre a psicoterapia infanto -juvenil. Lembro-me de alguns relatos de sessões com alguns pacientes, com os quais até hoje fico emocionada quando recordo da entrevista devolutiva. O depoimento dos pais quando relataram as inúmeras mudanças apresentadas por sua filha.
Como psicóloga clínica, considero que a justificativa para esses resultados está relacionada com a importância de saber respeitar a criança e não interferir em suas escolhas de viver as suas fantasias no setting, da maneira que ia imaginando no decorrer da sessão. Confesso que muitas vezes tive que ser criança e conviver para acompanhar as brincadeiras e as fantasias, fui intuindo grande parte da conduta terapêutica, ou seja, minha conduta terapêutica foi pautada em meu próprio feeling.
A dificuldade maior era encontrar a fundamentação teórica desse feeling, na hora de elaborar o relatório para a supervisão do curso de graduação. Guardo boas lembranças desse longo aprendizado que me vem servindo de base no“ fazer” a partir do referencial teórico adquirido durante toda a vida acadêmica. Vale ressaltar que ao longo do meu trabalho, sempre orientei pessoas usando menos a minha mente ( aspecto racional) e aproximando-me mais dos meus sentidos, ou seja, atuando diretamente com a minha percepção e minha sensibilidade.
Hoje, o meu “ fazer terapêutico” consiste em seguir minha intuição baseada na fundamentação teórica do saber entre o pensar e o fazer. Tenho uma satisfação muito grande, um prazer interno imenso de ter adquirido um “ saber” que ao longo da minha vida acadêmica fui aprendendo a fazer fazendo, sem perder o único diferencial que tenho de nascença, que é a minha sensibilidade perceptiva.Eu mesma aprendi a fazer fazendo, adquirindo a maior parte do meu conhecimento teórico, sem alterar o meu potencial perceptivo, pelo contrário, aprendi no meu percurso do “fazer” terapêutico, aprimorar a escuta da minha sensibilidade ( feeling), apropriada para fundamentar minha prática clínica com crianças, adolescentes, adultos e idosos.
A linha de pensamento que adota hoje é continuar estudando, praticando e ensinando a todos a buscarem os seus conhecimentos. Entre a teoria e a prática sempre vai existir tempo da minha parte para buscar o conhecimento e dividir com você, as diferentes possibilidades de aprendizado adquirido. Usarei esse espaço para dividir com vocês minhas experiências que alicerçaram todos esses anos de estudos e pesquisas.Estou feliz de ter criado esta trajetória no meu projeto de vida, que vem inovando meus conhecimentos e nutrindo cada vez mais a minha alma.
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